terça-feira, 30 de abril de 2013

Meu herói

Dias desses meu pai presenciou um acidente de trânsito. Não foi nada demais. Um caminhãozinho desses que circula pela cidade fechou o carro de uma menina. Ela não conseguiu desviar e eles colidiram. Os caras do caminhão, ao verem que era uma mulher ao volante, vieram todos valentes, tentando jogar a culpa nela. Meu pai atravessou a rua tranquilamente e abordou a moça. "Bom dia, você está bem? Não se machucou? Eu presenciei o acidente, vi que eles te fecharam. Aqui está meu cartão, se precisar de testemunha basta me ligar." E saiu.

Horas depois, ele recebeu uma ligação da moça, que dizia não ter palavras para agradece-lo pelo que fez. E meu pai apenas respondeu: "tenho uma filha que anda de carro pra cima e pra baixo pela cidade. Fiz por você o que gostaria que fizerem por ela."

Meu pai não é nenhum herói. Está longe a melhor pessoa do mundo. Na verdade ele tem um gênio bem difícil de lidar. E ele não fez nada demais. Quer dizer, o que ele fez não deveria parecer com algo grandioso. Mas acabou sendo. Ele fez o bem a uma pessoa sem esperar nada em troca. Nem mesmo aquele telefonema que ele recebeu mais tarde.

Ele fez o que todo mundo deveria fazer: fez para os outros o que esperava que fizessem por ele, ou por quem ele quer proteger e cuidar. Estranho como de repente isso se tornou uma atitude tão rara no mundo, né? Aí eu fico pensando se o mundo não seria um lugar pelo menos um pouquinho melhor se as pessoas agissem mais como ele agiu.

Quando ele me contou aquilo eu fiz a coisa que me parecia mais lógica na hora. Eu o abracei e beijei bem forte e agradeci, do fundo do meu coração. Vai que esses dois agradecimentos - o da moça do acidente e o meu - o ajudam a se tornar uma pessoa mais fácil de lidar, né? Pelo menos aquele dia ele foi o meu herói.

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