Eu acho que esqueci como é que se sonha. Sabe como é, né? Foram
muitos sonhos frustrados, muitas coisas que eu desejei, que eu planejei, que
faziam tanto sentido – e eram tão vivas! – na minha mente mas que, na prática,
tiveram o rumo extremamente oposto, que eu apenas parei de sonhar. Até o ponto
em que eu esqueci como se faz isso.
Mas eu já fui boa nesse negócio de sonhar. Eu tinha sonhos
incríveis, grandiosos, lindos e bem coloridos. Eram daquele tipo que faziam um
sorriso bem largo se abrir só de pensar neles. Daqueles que faziam os olhos
brilhar quando eu os contava para alguém. Que me fazia flutuar por aí, invés de
caminhar. Eles me faziam levantar da cama cantando e dançando todos os dias.
Porque só de sonhar com aquilo eu já ficava feliz. Aquele tipo de felicidade que
enche a alma. Tanto a minha, quanto a de quem estava por perto.
Não sei em que momento exatamente as cosias saíram do eixo.
Como naqueles vídeos de efeito dominó, meus sonhos foram caindo, um a um. Talvez
eu tenha me concentrado muito em sonhar e pouco em correr atrás para os
realizar. Ou talvez eu tenha deixado a minha felicidade transparecer demais, e
isso tenha incomodado a algumas pessoas, que acabaram por contribuir com o fim
de um sonho aqui, outro lá.